Em Sergipe, 30 crianças estão na lista de espera por um transplante de córnea, ou seja, cerca de 10% das pessoas que estão no aguardo da cirurgia em Sergipe tem entre um e 18 anos. Os são dados da Central Estadual de Transplantes e trazem à tona uma informação ainda pouco conhecida pela população: o Ceratocone infantil como umas das principais causas de cegueira em crianças. A doença provoca aumento de curvatura e afinamento da Córnea, que é projetada para fora e assume formato de cone, trazendo diversos problemas de visão.
Estudos demonstram que quando a doença surge na infância, avança mais rapidamente, provocando miopia, astigmatismo irregular e grave comprometimento visual. Por isso, o diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para evitar deficiências visuais que seguramente afetam o desenvolvimento e o futuro da criança.
O oftalmologista Dr. Allan Luz, especialista em Ceratocone, cirurgia refrativa e transplante de córnea, explica que a doença, além de se desenvolver mais rápido em crianças, é também mais agressiva, acelerada e de difícil controle e tratamento. Embora não existam estudos específicos sobre a incidência da doença nos pacientes infantis, já existem dados que mostram que 27,8% dos pacientes diagnosticados em estágio avançado da doença tinham menos de 15 anos, enquanto 7,8% tinham idade superior a 27 anos..
“Sabemos que quanto menor a idade no momento do diagnóstico, mais grave é a doença, mais ela afeta a visão e maior é a chance do paciente precisar de transplante de córnea. Por isso, alguns autores chamam de Ceratocone maligno, isto é, aquela doença capaz de provocar cegueira ou necessidade de transplante de córnea”, destacou.
Ainda não se conhece a causa exata da doença, mas conforme o Dr. Allan Luz, que é Doutor em Oftalmologia e Ciências Visuais pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), a hipótese mais aceita é baseada em dois pilares: envolvimento genético e trauma mecânico decorrente do ato de esfregar ou coçar os olhos com frequência.
“O Ceratocone pediátrico está amplamente associado à alergia ocular ou rinite alérgica. Os principais sintomas do Ceratocone em criança são baixa acuidade visual (baixa nitidez), alteração frequente do grau dos óculos e presença de alergias oculares (principal fator de risco nessa faixa etária)”, alertou Dr. Allan Luz.
Diagnóstico e tratamento
Embora o Ceratocone pediátrico compartilha a maioria dos sinais e sintomas comuns do ceratocone adulto, o tempo de apresentação, a taxa de progressão da doença e os protocolos de tratamento são diferentes.
O Dr. Allan Luz destaca que o diagnóstico do Ceratocone é feito por meio de exames específicos de tomografia, que analisa a córnea por inteiro; e de topografia, que analisa a superfície do tecido. Se o diagnóstico for positivo para doença, o tratamento se baseia em reverter as deformações e reforçar a estrutura colágena através de implantes e tratamento fotoquímico, como Crosslinking de colágeno, técnica que consiste em desepitelizar a superfície da córnea, pingar uma solução contendo riboflavina (vitamina B2) e aplicar um tipo específico de radiação ultra-violeta (UVA).
“Até a introdução do Crosslinking de colágeno, o Ceratocone era a maior causa de transplante de córnea em todas as idades. Atualmente, em geral, não representa o primeiro lugar, mas continua sendo uma causa importante de transplante de córnea do paciente em idade pediátrica”, afirma o oftalmologista Allan Luz.
O especialista ressalta também que, além do Crosslinking, o implante de Anel de Ferrara, técnica cirúrgica rápida e indolor que corrige a curvatura da córnea, também representa uma revolução no tratamento do Ceratocone. “Trata-se de um procedimento menos invasivo que reverte as deformações e proporciona melhoria na acuidade visual e na qualidade de vida”, completou.
Prevenção
As principais causas para o desenvolvimento do Ceratocone são os fatores genéticos e o hábito de coçar os olhos. Assim, uma medida preventiva importante é tentar evitar esse hábito no dia a dia. No caso de pacientes que apresentam alergias, o ideal é tratá-la a fim de reduzir a vontade de coçar os olhos.
“A prevenção dessa doença pode ser feita em casa, através da averiguação da possibilidade de haver prurido (coceira ocular diária). E no consultório médico especialista, por meio da avaliação da refração (grau dos óculos); da topografia, se há astigmatismo; e da tomografia, se houver assimetria na topografia. É importante deixar claro que a atuação dos pais é fundamental para evitar a cegueira dos filhos, seja orientando para evitar o ato de coçar os olhos, seja levando a criança ao médico especialista. Quanto mais cedo se chega ao diagnóstico, mais cedo é instituído o tratamento e mais distante a criança fica do transplante ou perda de acuidade visual”, finalizou o oftalmologista Allan Luz.