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Em Aracaju, mulheres contam com serviços de acolhimento e reconhecimento

Em Aracaju, mulheres contam com serviços de acolhimento e reconhecimento

O gesto afetuoso de dar flores segue bem quisto como forma de homenagem, mas, há anos, as mulheres pedem, mais do que flores, respeito e acolhimento. O 8 de março, Dia Internacional da Mulher, enfatiza a história de luta por direitos. Na capital sergipana, a Prefeitura de Aracaju atua em diversas frentes para assegurar políticas e serviços públicos específicos para as mulheres aracajuanas.
No cotidiano da administração, a gestão municipal garante que as mulheres não estão sós, seja no atendimento especializado ofertado na rede municipal de saúde, na porta de entrada dos serviços de assistência social e na educação, seja nos serviços de prevenção e proteção e no reconhecimento de suas potencialidades nos variados espaços sociais.
Dignidade
E esses serviços e políticas públicas abrangem desde as funções naturais do corpo. Exemplo é o Projeto Florir, atuação intersetorial, encabeçada pela Secretaria Municipal da Educação (Semed), que visa garantir dignidade menstrual às estudantes da rede municipal de ensino. Isso ocorre tanto a partir da distribuição de absorventes e orientação sobre os processos do corpo, quanto no combate a estigmas, quebra tabus e disseminação de informações importantes para a saúde física e psicológica das crianças, adolescentes e pessoas adultas que menstruam.
Esse projeto beneficia Fabiana Almeida, de 38 anos, aluna da Educação de Jovens e Adultos (EJA), e também à sua filha, Kauany Almeida, de 11 anos. “Eu vi a divulgação na TV e, depois, na escola. A diretora colocou no grupo dos pais informando que aquelas pessoas que tivessem em idade menstrual que se dirigissem à escola, pois têm direito a um pacote de absorvente por mês. Com certeza isso me ajudou bastante. Gastava muito com absorvente e com esse projeto já diminuiu bastante nosso orçamento. Passei o ano inteiro retirando os pacotes de absorvente. Ano passado eu retirei para uso da minha filha, mas, agora, vou retirar também para mim, porque sou aluna da EJA”, relata.
A colega Maria Isabel Santos, de 30 anos, compartilha da opinião de Fabiana. Ela, que tem uma filha em idade menstrual e outra que está prestes a menstruar, reconhece os benefícios. O projeto, ressalta, ajudou-a, pois “não tinha dinheiro para comprar o absorvente”.
“Quando eu pego na escola sempre deixo na bolsa, para me prevenir. Fiquei sabendo através da própria diretora da escola, que foi na nossa sala e conversou com a gente. Assim, todo mês, é uma ajuda bem positiva. Até porque, a minha filha também participa do projeto em outra escola, onde ela estuda. E eu tenho também outra filha que vai menstruar em breve. Então, imagine três mulheres, o custo com absorvente. Por isso o projeto nos ajuda bastante, é uma despesa a menos”, complementa Isabel.
Direito de existir 
Ainda que o corpo não condiga com a essência da alma, esse reconhecimento é necessário pelo direito de existir e ser quem é, de fato. Desta forma atua a Assessoria LGBTQIA+ da Secretaria Municipal da Assistência Social ao ofertar o suporte necessário em todo o processo de retificação de nome e gênero, atuação que chegou a Lupyta Melo de Oliveira, de 24 anos.
“Sempre fui mulher, mas eu não sabia como era feito o processo de retificação de nome. Então, um dia, uma amiga que já tinha feito me indicou a Assessoria e, em menos de um ano, todo o processo já estava concluído. Ter o nome social reconhecido mudou muita coisa, principalmente o constrangimento que deixei de passar por ser uma mulher e ter um crachá com o nome de um homem”, conta Lupyta.
Ao longo de sua jornada para ser reconhecida por quem é, ela enfrentou preconceitos e até ameaças de uma pessoa que, um dia, contou com seus serviços de técnica de enfermagem, mas ela tem sonhos maiores que o preconceito.
“Retomei o curso de Fisioterapia e me vejo conquistando meu doutorado, no futuro, passando em concursos, melhorando de vida. Enquanto isso, é seguir lutando por respeito. Respeito. Esta é a palavra e o sentido que gostaria que a vida das pessoas trans tivesse. Hoje, o que fazemos é impor a nossa voz, mas imagino um futuro em que as pessoas tenham consciência de que somos o que somos”, frisa ao vislumbrar dias melhores.
Acolhimento 
Das diversas formas de ser mulher, além do respeito é necessário acolhimento. Foi isto que Jucicleide Ribeiro dos Santos, de 39 anos, encontrou na rede municipal de ensino. Mãe de uma criança de 3 anos, e apesar de sentir-se plena como tal, ela também se enxerga mulher com desejos, sonhos e de querer grande. Para Jucicleide, o acolhimento ao seu filho na escola lhe oportuniza ter mais tempo para si e para o seu negócio; ela é cabeleireira e visa expandir o empreendimento.
“Ser cabeleireira era meu grande sonho desde os 14 anos. Lutei muito, já trabalhei muito fora, corri muito, mas o que me segurou, de ter uma condição financeira melhor foi a qualificação que tenho hoje, trabalho com trança, com mega, vários tipos de procedimentos. Muita gente achou que o coloquei muito cedo na creche, mas ele vai ter que estudar, ele vai ter que desligar um pouco de mim e da família e eu um pouco dele também, porque tenho que cuidar de mim. Às vezes eu estava com cliente e tinha que estar parando para dar peito, para dar atenção, e nisso eu ficava meio presa, não podia deixar a cliente e também de cuidar do meu filho.  Eu tive que juntar os prós e contras e coloquei ele na creche”, detalha a cabelereira.
Ao reforçar seus sonhos, ela encara o por vir e compreende os processos de sua vida como alicerces para continuar. “Encontrei a Emei Ana Luiza Mesquita e me abraçaram com muito carinho e ao meu filho mais ainda. Desde 2020 ele está matriculado, mas, devido à pandemia, foi só no ano passado que ele começou a frequentar, gostar da escolinha. Foi aquela dor deixar, desligar e, ao mesmo tempo, me apaixonando pelas pessoas que estão ao lado do meu filho, protegendo, cuidando, zelando por ele. Tenho um marido que me ajuda muito, mas, ainda assim, tenho que cuidar um pouco de mim. Ainda sinto que tenho muito a fazer e conquistar”, ressalta Jucicleide.