O trânsito é um espaço de convivência social que reflete valores, hábitos e fragilidades humanas. Em Sergipe, assim como no restante do Brasil, os acidentes de trânsito continuam a ceifar vidas e deixar sequelas físicas e emocionais, muitas vezes associados a escolhas comportamentais evitáveis. Diante desse cenário, o Conselho Regional de Psicologia da 19ª Região (CRP-19/SE) reforça a necessidade de compreender as raízes psicológicas dessas condutas e atuar de forma preventiva.
“A segurança no trânsito exige uma abordagem integrada que considere não apenas a infraestrutura e as regulamentações, mas também o comportamento humano. Nesse contexto, o trabalho do psicólogo do trânsito é essencial para identificar padrões comportamentais de risco e implementar estratégias que promovam um trânsito mais seguro”, pontua a psicóloga Adriana Gomes, Conselheira Secretária do CRP 19, representante da Comissão de Mobilidade Humana e Trânsito do Conselho de Psicologia de Sergipe e presidente da Associação dos Psicólogos de Trânsito de Sergipe – APSITRAN.
De acordo com o Instituto de Análises e Pesquisas Forenses (IAPF), no primeiro semestre de 2023, Sergipe registrou 127 mortes em acidentes de trânsito, um aumento de 20,95% em relação ao mesmo período de 2022, que contabilizou 105 óbitos. Dentre essas vítimas, 73 apresentaram resultado positivo para o consumo de bebida alcoólica, representando 57,5% do total de mortes. A análise dos dados apontou ainda uma disparidade de gênero: 114 vítimas eram homens (89,8% dos óbitos), contra 13 mulheres (10,2%). Até novembro de 2024, o Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTRan) registrou 1.200 acidentes na Grande Aracaju, com 30 mortes confirmadas. Os finais de semana concentraram 42,6% das ocorrências, período marcado pelo aumento de deslocamentos sociais e maior consumo de álcool. O perfil das vítimas fatais mantém paralelos com 2023: 76,6% tinham idade acima de 30 anos e 73,3% eram do sexo masculino.
“Isso que reforça padrões socioculturais que associam masculinidade a comportamentos de risco, como excesso de velocidade e consumo de álcool. Outros comportamentos inadequados, como o uso de celular ao volante, excesso de velocidade e desrespeito à sinalização, também contribuem significativamente para a ocorrência de acidentes. Investir em pesquisas e políticas que incluam a psicologia como componente central pode levar a uma redução significativa no número de acidentes e, consequentemente, salvar vidas”, reforça Adriana Gomes.
Psicologia no Trânsito
A psicologia do trânsito estuda as interações entre os indivíduos e o ambiente viário, buscando compreender e modificar comportamentos de risco. Para a presidente da APSITRAN, campanhas educativas, que marcam o ‘Maio Amarelo’, devem ser promovidas com maior intensidade, visando conscientizar a população sobre a importância de atitudes responsáveis no trânsito. Essas campanhas, aliadas à fiscalização e à educação continuada, são fundamentais para a redução de acidentes e preservação de vidas.
“A psicologia identifica fatores-chave que contribuem para comportamentos de risco no trânsito, a exemplo da impulsividade e busca por sensações, estresse e agressividade, normalização de práticas perigosas como a cultura de tolerância ao álcool e ao excesso de velocidade que cria falsa sensação de controle e a distração tecnológica com os celulares ao volante”, declarou a representante da Comissão de Mobilidade Humana e Trânsito do CRP19.
De acordo com Adriano Barros, Conselheiro Presidente do CRP19, a atuação do Conselho Regional de Psicologia de Sergipe é essencial nesse processo, “contribuindo com a discussão e intervenções que visem à mudança de comportamentos e à promoção da saúde mental no contexto da mobilidade urbana, bem como com a proximidade da Associação de Psicologia do Trânsito de Sergipe – APSITRAN SE, que proporciona diálogo institucional com os Órgãos governamentais para valorização do trabalho do psicólogo do tráfego. É importante que a sociedade, os órgãos governamentais e os profissionais da psicologia unam esforços para transformar o trânsito em um espaço de convivência segura, no qual a vida seja sempre prioridade”, finalizou Barros.