Lambe Sujo e Caboclinhos, Chegança, Cacumbi, Taieira, Bacamarteiro, Reisado, São Gonçalo e Parafuso. Esses são apenas alguns dos personagens mais tradicionais das representações folclóricas de Sergipe, que possui um leque de manifestações culturais populares em seus municípios. Com o objetivo de manter essas tradições vivas, em alusão ao Dia do Folclore, comemorado neste 22 de agosto, o Governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap), promoveu uma série de ações na capital sergipana.
Em uma festa de cores, música e arte, a Dona do Baile, o Boi, o Caboclo e a Baiana encantaram o Palácio Museu Olímpio Campos (Pmoc), onde alunos do Centro de Excelência Dom Luciano José Cabral Duarte e do Colégio Estadual Jackson Figueiredo tiveram a oportunidade de assistir à apresentação do grupo Reisado Águia de Ouro, de Laranjeiras, município que se consolidou como o maior núcleo do folclore no estado. Na ocasião, os estudantes também puderam tirar dúvidas e conhecer mais sobre a tradição, por meio de uma roda de conversa com os brincantes.
De acordo com a coordenadora de Educação e Pesquisa do Pmoc, a historiadora Izaura Ramos, Sergipe concentra uma das maiores quantidades de grupos folclóricos vivos do país, sendo necessário trabalhar pela permanência e preservação dessa memória. Dessa forma, a iniciativa buscou educar os estudantes quanto à cultura do estado, a fim de que o conhecimento se perpetue nas próximas gerações. “A gente espera que agregue muito à educação deles e que eles tenham conhecimento da importância desses grupos e da preservação dos mesmos, pois representam a nossa cultura, principalmente a cultura popular, a cultura oriunda do povo”, destacou a historiadora.
A estudante Nycole Anjos, de 15 anos, da 1ª série do Centro de Excelência Dom Luciano José Cabral Duarte, ainda não conhecia o Reisado, então aproveitou a oportunidade para aprender o máximo possível. “Eu achei muito incrível. Gostei da forma como elas brincam, do figurino, e eles responderam muitas perguntas que eu fiz. Acho que é importante passar o conhecimento da nossa cultura à frente, porque a gente acaba estudando sobre a cultura do nosso país e do nosso estado”, considerou.
Já a estudante Huyonara Tiffany, 16, da 1ª série do Colégio Estadual Jackson Figueiredo, contou que já havia brincado em oportunidades anteriores, de forma que a apresentação lhe proporcionou boas lembranças. “Achei muito legal. Já brinquei quando eu era mais nova, mas há muito tempo que eu não via, então foi muito bom”, relatou.
E quem faz parte dessas tradições também aprovou a iniciativa do Governo do Estado. Segundo Salu, responsável pelo Reisado Águia de Ouro, ações como essa contribuem para que a cultura popular continue viva na memória do povo sergipano. “Eu dou nota dez. Ajuda a preservar a nossa cultura sergipana. A gente precisa sempre lembrar que dia 22 de agosto é Dia do Folclore e que o folclore continua vivo”, ressaltou.
Nesse sentido, o diretor do Pmoc, Elicelmo Zuzarte, reforçou que a gestão estadual tem se esforçado para dar visibilidade às mais diversas representações artísticas do estado, inclusive como forma de fomentar o turismo cultural. “O folclore é uma tradição popular, por meio da qual a gente resgata a nossa sergipanidade. São as tradições de cada povo, de cada município, e o Governo do Estado tem se preocupado com a divulgação dessa cultura para o povo de Sergipe e para o povo do Brasil”, pontuou.
Ainda no Pmoc, os estudantes da rede estadual puderam visitar uma exposição com fotografias amadoras retratando outras manifestações folclóricas sergipanas.
E as comemorações também foram às ruas. Partindo do Centro de Criatividade, no bairro Cirurgia, o cortejo ‘Tradição e Evolução – Arte da Comunidade’ reuniu os grupos Zabumbadores de Vó Lourdes, Descidão dos Quilombolas, Afoxé Di Preto, Alberto Marcelino, Parafolclórico Saci da Maloca e Capoeira do Mestre Betinho Caixa D’água em um momento de pluralidade cultural.
O diretor do Centro de Criatividade, Eugênio Eneas, ressaltou que o evento foi mais uma oportunidade para dar vida ao espaço, chamando atenção para o protagonismo das comunidades da região para a cultura sergipana. “Isso está acontecendo por conta da comunidade, em parceria com o Governo do Estado, por meio da Funcap, o que nos deixa muito felizes, porque essa comunidade específica é um berço cultural. Aqui se formam vários artistas e linguagens artísticas, então a gente não poderia deixar esse fomento cultural apagado no dia 22 de agosto, e todos só têm a ganhar”, considerou.
Nesse contexto, de acordo com o presidente do grupo Afoxé Di Preto,Allan D’Xangô, a ação representou, antes de tudo, um ato de resistência. “Grande parte da comunidade que está aqui é negra, é preta, é remanescente de quilombo, então o folclore faz parte do nosso conteúdo cultural. Todos os temas que a gente traz nos eventos, seja carnaval, seja cortejo religioso, têm o envolvimento da cultura popular. As crenças, as rezas, os figurinos, sejam folclóricos, parafolclóricos, o samba reggae, o afoxé, tudo está incluso dentro da raiz que esta comunidade tem. Estar aqui no Centro de Criatividade é ocupar um espaço que é nosso, fazer com que a gente se encontre, se identifique no que a gente canta, no que a gente toca”, ponderou.
Nascido na comunidade da Maloca, o segundo quilombo urbano oficialmente reconhecido no Brasil, certificado pela Fundação Palmares em 2007, o Grupo Parafolclórico Saci da Maloca foi fundado pelo Mestre Saci, que reforçou o papel do Centro de Criatividade no fomento à cultura do estado. “É importante a gente fazer esse apanhado na semana do folclore, e a gente precisa do Centro de Criatividade para isso, para movimentar nossa cultura. Isso aqui é um berço do da cultura sergipana”, destacou.
A designer de interiores Nayara Santana foi prestigiar o cortejo e contou que já tem o costume de frequentar o Centro de Criatividade, pois considera fundamental que a população também valorize a cultura local. “Acho que a iniciativa é muito importante para não deixar que as tradições morram, para que elas possam se perpetuar para as próximas gerações. É muito importante estarmos aqui prestigiando, para que essas pessoas se sintam ainda mais acolhidas e incentivadas a continuar”, disse.
Assim como ela, a administradora Sid Nascimento, acompanhada da filha Kayla, de apenas 9 anos, fez questão de assistir às apresentações dos grupos, e destacou o papel do incentivo à cultura para a qualidade de vida do povo. “Isso aqui é completamente salutar. A cultura tem um papel importantíssimo, eu acredito que faz parte da completude de um ser ter cultura e arte”, ressaltou.
O Dia do Folclore foi encerrado com muita arte na Galeria de Arte J. Inácio, anexa à Biblioteca Pública Epiphanio Dória, que recebeu a inauguração da exposição ‘Folclore Sergipe e Suas Identidades’. Incluindo 14 artistas locais, a mostra apresenta diferentes técnicas e expressões. Na inauguração, César Leite e a Burrinha completaram a atração.
Artistas visuais como Adauto Machado, Adriana Hagenbeck, Dayanne Carvalho, Edson Lima, Edwyn Gomes, Genival Melo, Hortência Barreto, Lindete Costa, Matheus Almeida Cordeiro, Nivaldo Oliveira, Sillas Moraes, Tiago Ramos, Waldir Argolo fazem parte da exposição, assim como o teatro Mamulengo de Cheiroso. A atração segue até 22 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 16h30, com entrada gratuita.