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O salto do vertical: como o cinema e os vídeos em formato vertical se tornaram uma indústria e uma oportunidade

O salto do vertical: como o cinema e os vídeos em formato vertical se tornaram uma indústria e uma oportunidade

Nos últimos anos a imagem vertical — aquela que antes era “errada” para o cinema e para a TV — deixou de ser só um acidente de smartphone para virar formato de consumo massivo e produto cultural legítimo. Hoje o vertical já tem festivais, projetos experimentais, estúdios focados, séries nativas e um mercado que gigantes e startups disputam com verbas e formatos de monetização. Este artigo conta

essa história (como começou), mostra a força atual (dados e investimentos) e apresenta o mapa de oportunidades para produtores independentes, pequenas marcas e empreendedore

s.


1 — Por que o

 vertical importa (introdução e dimensão econômica)

O consumo de vídeo é a espinha dorsal da internet contemporânea — estimativas de mercado apontam que o vídeo responderá por uma fatia muito grande do tráfego e do investimento publicitário digital nos próximos anos. Plataformas, anunciantes e estúdios redirecionam verbas para formatos pensados para o celular: vertical + curto = alcance e engajamento. Relatórios setoriais mostram crescimento acelerado do mercado de vídeo digital e tendências específicas para formatos de curta duração e vertical.

Paralelamente, mercados locais gigantes (especialmente a China) criaram ecossistemas altamente lucrativos de “vertical dramas” (micro-séries verticais), com projeções bilionárias para os próximos anos — sinalizando que o vertical não é moda; é modelo de negócio.

Vertical Cinema – Aram Bartholl


2 — Breve história: de Eisenstein ao smartphone — as raízes do vertical

A ideia de imagens verticais não é totalmente nova. Há registros que remontam ao cinema primitivo e a discussões teóricas (por exemplo, Sergei Eisenstein já questionava os formatos padronizados e propunha telas dinâmicas). Ainda assim, o formato widescreen e as normas de exibição padronizaram a horizontalidade durante quase todo o século XX — deixando o vertical no campo experimental.

No século XXI o vertical ressurgiu em duas frentes: (1) a experimentação artística e site-specific — com projetos comoVertical Cinema, que encomendou obras cinematográficas pensadas para projeção vertical em espaços altos; e (2) a popularização de smartphones e redes sociais, que fez do vertical o modo “natural” de segurar o aparelho. Essas duas frentes — arte e massa — acabaram por legitimar o formato.


3 — Onde

o vertical virou “cinema”: festivais e exibições (quem legitimou o formato)

Com a consolidação do interesse, surgiram festivais e mostras dedicadas ao vertical — eventos que passaram a premiar e promover obras pensadas especificamente para 9:16:

  • Vertical Film Festival (VFF)— criado em 2014 em Katoomba, Austrália, foi o primeiro festival internacional dedicado exclusivamente a filmes verticais e é frequentemente citado como o marco inaugural da cena de festival vertical.

  • Slim Cinema / Slim Cinema Vertical Film Festival (NYC)— exemplos de iniciativas locais em cidades grandes que promovem exibições e debates sobre o novo formato.

  • Mobile Film Festival— embora não seja estritamente vertical, o festival de filmes feitos em celular (1 minuto) ajudou a legitimar narrativas curtas e móveis.

Além desses, há projetos curatoriais e comissões em centros de arte (como a sérieVertical Cinema) que levaram o vertical ao circuito artístico e acadêmico, contribuindo para que ele deixasse de ser apenas “vídeo de rede social”.

Cinema na Vertical - E agora? - YouTube


4 — O presente: crescimento exponencial, estúdios e investimentos em grande escala

4.1 Mercado e números

Relatórios de mercado (digit

al video, publicidade e produção) apontam crescimento acelerado: o mercado de vídeo digital e publicitário recebe volumes crescentes de verba (com previsões robustas para 2025–2030) e a produção de conteúdo segue em alta, com empresas destinando orçamento maior a vídeo em 2025. Plataformas de análise preveem que o vídeo dominará grande parte do tráfego online.

Analistas e veículos noticiaram projeções específicas para “vertical dramas” (micro-séries verticais): estudos e reportagens apontaram projeções de mercado na casa dosUS$ 10–14 bilhõesnos próximos anos (varia conforme a fonte e a região), sobretudo alimentadas pelo ecossistema chinês e pela adoção internacional.

Vertical Cinema - RESET THE APPARATUS!

4.2 Investimentos e estruturas físicas

A novidade não é apenas virtual:estúdios e espaços físicosforam projetados para o vertical. Exemplo recente de grande repercussão foi a abertura de um estúdio em Nova York com foco em produções verticais (reportagens citaram um grande investimento para instalações adaptadas a esse tipo de filmagem). Enquanto isso, plataformas e produtoras tradicionais aumentam projetos-piloto e parcerias com apps e serviços que distribuem vertical (inclusive com modelos de monetização híbrida).

4.3 Onde as TVs e produtoras tradicionais entram

Grandes emissoras e produtoras clássicas estão testando verticais de duas formas principais:

  1. Conteúdo curto de descoberta(clipes, highlights, teasers orientados para Reels/Shorts/TikTok),

  2. Formatos seriados verticais(episódios curtos, spin-offs e experiências transmedia), muitas vezes em parceria com plataformas nativas ou apps especializados. Esses movimentos alteram o fluxo de orç

  3. amento e exigem reformulação de produção (roteiro, enquadramento, ritmo).


5 — Casos de sucesso e projetos relevantes (quem já ganhou com vertical)

A tela invertida em 90 graus: o cinema vertical ganha destaque – EduCriativa

  • China: o mercado dos “duanjus” (vertical mini-dramas)— grande motor do crescimento: produções curtas, muitas vezes em episódios de ~1 minuto, que conquistaram enorme audiência e receitas, servindo de modelo e sinal para o resto do mundo. A imprensa internacional destacou o fenômeno e projeções de mercado multimilionárias.

  • ReelShort / produções independentes— séries verticais recentes (ex.:Audrey in Full Bloom) alcançaram milhões de visualizações e demonstraram que há audiência e modelo comercial para séries verticais curtas.

  • Experimentos em festival / arte— projetos comoVertical Cinemae mostras no SXSW e em festivais regionais provaram viabilidade artística e narrativa do vertical; até artistas renomados lançaram filmes com estética vertical, aproximando crítica e público. (Ex.: filmagens com iPhone exibidas em festivais; performances e estreias em eventos).

  • Plataformas sociais(TikTok, Instagram Reels, YouTube Shorts) — não são “casos” isolados, mas o terreno onde maior parte da audiência vertical se forma; suas ferramentas de descoberta, algoritmo

  • s e commerce integrado são parte essencial do sucesso. Relatórios de adoção e uso comprovam isso.


6 — O que muda para distribuição e monetização (modelo de negócio)

A distribuição vertical exige repensar funil: episódios curtos servem como porta de entrada → engajamento via comunidade/chat → monetização por anúncios in-stream, integrações de marca, assinatura de apps verticais e — em muitos mercados — modelos de micro-pagamento ou planos de assinatura para conteúdos premium. O ecossistema chinês provou a força dessas micro-monetizações; no Ocidente, players e criadores testam combinações de anúncios + “paywalls” + e-commerce integrados.


7 — O grande ganho: oportunidades práticas para pequenos produtores e empreendedores

Vertical Cinema - RESET THE APPARATUS!

O ponto mais relevante para quem não tem mega-orçamento é simples:a barreira de entrada caiu. Aqui estão as razões e caminhos práticos:

7.1 Por que é uma grande oportunidade

  • Baixo custo de produção: smartphone + app de edição = produto competitivo em formato vertical; produção rápida e com menor logística.

  • Descoberta orgânica: algoritmos de plataformas favorecem formatos nativos (shorts/reels) e permitem alcance mesmo para contas pequenas.

  • Modelos de venda direta: recursos shoppable, links, catálogos e integração com commerce reduzem o atrito entre descoberta e compra.

  • Séries curtas = retenção: micro-episódios criam hábito e comunidade (ex.: cliffhangers diários).

7.2 Formatos que funcionam para pequenos (e exemplos)

  • Micro-dramas locais / séries urbanas: roteiros simples, fôlego serializado (1–2 minutos) — formato que tem atraído audiência. (Ex.: produções comoAudrey in Full Bloom).

  • Vídeo-produto / social commerce: demos curtos, antes/depois, unboxings em vertical — convertem muito bem.

  • Conteúdo educativo / micro-aulas: especialistas locais e pequenos negócios vendem serviços via conteúdos curtos que geram leads.

  • Documentários instantâneos: micro-reportagens locais que viralizam e geram parcerias com mídia local.

7.3 Dicas práticas para começar (passo a passo)

  1. Pense em narrativa curta: gancho nos primeiros 3s; clímax no meio; final que puxe para o próximo episódio.

  2. Produza com celular, mas capriche no áudio— som ruim afasta público mais rápido que imagem ruim.

  3. Use legendas / texto na tela— muitos assistem sem som.

  4. Teste formatos (15s, 30s, 60s)e acompanhe retenção; replique o que prende audiência.

  5. Integre CTA e canal de venda(WhatsApp, link na bio, loja integrada).

  6. Considere parcerias com micro-influenciadores locais— custo baixo, alta confiança comunitária.

  7. Cinema Vertical - YouTube

8 — Riscos e armadilhas (o que evitar)

  • Conteúdo puramente “de fórmula”: a saturação de micro-dramas clickbait pode cansar; autenticidade importa.

  • Dependência de uma única plataforma: mudanças algorítmicas podem reduzir alcance de forma abrupta. Foque emfirst-party data(listas, contatos) e canais próprios quando possível.

  • Questões editoriais e de compliance: direito autoral, representações sensíveis e violência em micro-dramas exigem atenção — produtores independentes também respondem por conteúdo.


9 — O que vem a seguir (cenário 2025–2028)

Cinema Vertical - YouTube

A tendência é de consolidação: mercados e plataformas irão profissionalizar o ecossistema vertical (mais estúdios, melhores métricas, formatos premium e modelos de receita híbridos). Observadores do setor esperam que:

  • vertical séries e micro-dramasganhem ofertas de monetização mais robustas;

  • estúdios e players tradicionaisadaptem processos para produção vertical;

  • publicidadese sofisticará (anúncios pensados para 9:16, integrações e shoppable creatives);

  • novas janelas de festival e curadorialegitimem ainda mais o vertical no circuito criativo.


10 — Conclusão curta e prática

Globo cria novela vertical no TikTok com Jade Picon - Portal Publicitário

O vertical deixou de ser “o que acontece quando alguém grava sem pensar” e virou linguagem — artística, comercial e industrial. Para pequenos empreendedores e produtores, o momento é de oportunidade real: quem aprender a contar histórias curtas, construir comunidade e integrar venda/serviço ao formato terá vantagem competitiva nos próximos anos. Já para os players maiores, é hora de adaptar processos e buscar formatos nativos. No fim, o formato vertical oferece uma boa notícia: narração e impacto voltaram a ser mais importantes que orçamento.


Referências (selecionadas — leitura e checagem)

  • Vertical Film Festival — about / history.verticalfilmfestival.org+1

  • Vertical Cinema (site sobre projetos site-specific).verticalcinema.org

  • “Vertical video” — histórico e discussões sobre formatos (Wikipedia / overview).Wikipedia

  • Mobile Film Festival — festival de filmes feitos em celular.mobilefilmfestival.com

  • Rise of Vertical Filmmaking — LBBOnline (contexto e eventos como Cannes Lions discussão).lbbonline.com

  • Cases e projeções sobre vertical dramas / mercado bilionário: The Guardian / Hollywood Reporter / Washington Post (reportagens sobre ‘vertical dramas’ e projeções de mercado).The Guardian+2Hollywood Reporter+2

  • Exemplo de vertical series de sucesso (Audrey in Full Bloom/ ReelShort).MySA

  • Reportagem sobre experimentos em festivais (Wayne Coyne iPhone film no SXSW).Pitchfork

  • Investimento e estúdio vertical (Wildflower Studios, NY — reportagem de mercado).New York Post

  • Mercado e projeções de vídeo digital e produção (Mordor Intelligence, Grand View Research, PwC).Mordor Intelligence+2Grand View Research+2

  • Estatísticas de adoção de vídeo e práticas de marketing (Wistia, Insivia).wistia.com+1

  • Mercado de publicidade em vídeo (Mordor Intelligence).Mordor Intelligence

  • Mercado e forecast de plataformas de short video (Coherent Market Insights).coherentmarketinsights.com