A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que sugere a mudança da tradicional escala de trabalho 6×1 para uma jornada 4×3 — onde trabalhadores teriam três dias de folga após quatro de trabalho — está gerando uma intensa discussão. Embora apresentada como uma inovação para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, a proposta esconde potenciais riscos que podem atingir duramente a população, aumentando o desemprego e elevando o custo de produtos e serviços essenciais.
O Que Está em Jogo com a Escala 4×3?
A mudança para uma escala de 36 horas semanais parece promissora, mas especialistas e dados do setor empresarial mostram que o Brasil pode não estar preparado economicamente para essa transição. Em países como a Islândia, onde experimentos com jornadas reduzidas deram certo, o sucesso se deu em contextos específicos, com forte apoio financeiro e adaptação. No Brasil, porém, a realidade é outra: as pequenas e médias empresas, que empregam mais de 50% dos trabalhadores, já operam com margem de lucro reduzida. A nova jornada exigiria maior número de contratações ou horas extras, e muitos empregadores alertam que essa mudança poderia gerar demissões em massa e fechamento de negócios.
No setor de comércio, por exemplo, shoppings que dependem de grande movimento nos fins de semana e feriados já sinalizam que terão dificuldade para manter o quadro de funcionários adequado. Dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) mostram que esses centros empregam mais de 1 milhão de pessoas diretamente e são uma parte essencial da economia urbana. Com a redução da jornada, shoppings teriam de contratar mais funcionários ou elevar os preços para cobrir os custos — o que seria repassado aos consumidores, gerando um efeito dominó no custo de vida.
Hospitais e Serviços Essenciais em Alerta
Em hospitais, que precisam manter o atendimento ininterrupto, a situação é ainda mais crítica. Com um déficit crescente de profissionais e uma alta carga de impostos, o setor de saúde privado já enfrenta dificuldades para manter as operações. A escala 4×3 exigiria um aumento de contratações que, segundo a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), poderia inviabilizar financeiramente muitos hospitais e clínicas. Sem condições de absorver os custos, o setor privado poderia ver um aumento nas mensalidades de planos de saúde e nos valores cobrados por consultas e exames — restringindo o acesso de grande parte da população.
Risco de Aumento do Desemprego e da Inflação
Economistas também alertam que o Brasil pode ver um aumento do desemprego e da inflação como resultado da nova jornada. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego já está em torno de 8,5%, e a necessidade de reduzir custos com pessoal poderia levar muitas empresas a demitir. Além disso, com o aumento nos custos de operação, setores essenciais como alimentação e saúde poderiam reajustar os preços, agravando o cenário inflacionário e pressionando ainda mais o orçamento das famílias de baixa renda.
Falta de Planejamento e a Urgência do Diálogo
Outro problema apontado por especialistas é a falta de diálogo com setores essenciais e trabalhadores antes da apresentação da PEC. Muitos defendem que a implantação da escala 4×3 seja gradativa e com exceções para setores que precisam de funcionamento contínuo, evitando a sobrecarga e a elevação dos custos para empresas e consumidores.
Uma Proposta que Pode Custar Caro para a População?
A PEC do 4×3, embora apresentada como uma promessa de melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores, traz consigo desafios que podem ter efeitos adversos na economia brasileira. O aumento de preços, o risco de desemprego e as dificuldades para setores essenciais geram dúvidas sobre a viabilidade dessa mudança no contexto atual. É preciso debater se o país está realmente pronto para essa transformação ou se o custo da mudança será alto demais para a população.
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