Pular para o conteúdo
Dia da Mulher: margaridas reconhecem conquistas alcançadas a partir da profissão

Dia da Mulher: margaridas reconhecem conquistas alcançadas a partir da profissão

Calça e blusa de cor viva, um calçado preto e luvas de proteção. Estes itens do uniforme que Lindaura de Souza utiliza por longos 34 anos recebem um contraste pequeno e ao mesmo tempo precioso: dois brincos azuis em formato de flor, os quais revelam a vaidade presente no dia a dia dessa margarida, que não esconde o orgulho pelas conquistas alcançadas, demonstrando uma imponência típica de quem sempre soube aonde chegar. 
 
“Quando comecei, tinha uma filha de três anos e minha vida era um tormento. Com esse trabalho, comprei minha primeira casa, que acabou sendo destruída pelo meu marido que bebia, mas continuei na luta. Comprei uma segunda casa velhinha, reformei toda e fui em frente, criando minha menina e depois meus três netos. Hoje, tenho 5 casas, que vão ser deles quando crescerem”, conta ela.
 
Mesmo carregando nos olhos o brilho de quem ama o que faz, Lindaura traz consigo lutas e desafios diários, alguns deles parte de sua história, outros, infelizmente, exemplos de realidades ainda impostas ao público feminino. Nascida no interior, a margarida acrescenta que, ainda cedo, aprendeu a lidar com as múltiplas habilidades que, segundo ela, estão entre os maiores significados do que é ser mulher. 
 
“Pra mim, é você ser mãe, pai, educar bem seus filhos, mas saber se cuidar também. Eu, hoje, gosto de sair pra festas, de ir à praia, de aproveitar. Adoro namorar, mas cada um no seu canto {risos}. Gosto de alegria, mas se ficar muito triste eu choro também. E entre nós é assim, como “cão e gato”, de vez em quando a gente se arranha, mas todo mundo se gosta. É uma corrente de mães e pais aqui”, reforça. 
 
Assim como Lindaura, Maria Valdeci diz nunca ter economizado na garra e força que, atualmente, fizeram dela não apenas margarida, como também mulher empreendedora. Mãe de dois filhos, ela se divide entre tocar o seu negócio pelo dia, enquanto no período da noite ajuda a cuidar da cidade em que vive, sem deixar de apoiar a criação de seus três netos. Para dar conta, ela comenta acordar, todos os dias, às 5h e manter uma rotina entre idas e vindas, permanecendo com a fé e confiança que afirma terem contribuído na construção de seu caminho. 
 
“Meu primeiro emprego, de verdade, foi como margarida e agradeço sempre a Deus por isso. Contribuo na limpeza da cidade, deixando tudo limpinho, e por aí vai. Hoje, com minha ajuda também, meus filhos têm o apartamento deles, eu tenho a minha casa, e foi tudo fruto desse trabalho, onde consegui até mesmo montar algo meu. Para mim, ser mulher é ter atitude e a responsabilidade que todas nós já provamos que temos”, diz aos sorrisos dona Valdeci. 
 
Lindaura, Maria Valdeci e outras quatro companheiras de trabalho integram um grupo especial de margaridas que fazem parte do quadro de colaboradores efetivos da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb). Alocadas no ponto de apoio conhecido como Casa do Gari, na região central da cidade, grande parte delas atua no período entre o fim de tarde e noite, através de tarefas de varrição e coleta de resíduos em áreas como o Terminal de Integração Fernando Sávio, do Terminal dos Mercados, além de trechos das avenidas Coelho e Campos e Sete de Setembro. 
 
Na equipe das margaridas sorridentes e, mais do que tudo, conscientes de seus papéis na sociedade está Ana Maria dos Santos, que assumiu a função há quase 30 anos. Dona de um olhar singelo e de um sorriso capaz de cativar mesmo quem nunca a encontrou antes, Ana Maria é firme em dizer que, para ela, a possibilidade de poder contribuir diretamente nos cuidados com a capital demonstra a grandiosidade de seu trabalho, mesmo que, em alguns momentos, ainda persistam o preconceito e o descaso.  
 
“Por vezes, é a gente limpando na frente e o pessoal sujando atrás. Já ouvi comentários de todo tipo, de dizerem que não somos ninguém, que não temos dinheiro e até que estamos fedendo, imagine só. Muitas que entraram junto comigo saíram porque não aguentaram, mas eu sigo aqui, pedindo a Deus pra continuar tendo força, pois tudo que tenho, toda a criação que dei pra os meus filhos, foi tudo através desse trabalho, então estou bem, né? Com fé em Deus, fico aqui até chegar o dia de me aposentar”, conta Ana Maria. 
 
Em meio a histórias de coragem e superação, existem ainda mulheres que não deixam de ajudar outras a seguirem adiante na direção de seus sonhos e planos. Foi assim com Maria de Lourdes, que entrou na profissão de margarida graças a uma grande amiga, que também trabalha na função. Emocionada, ela não tira do rosto o carinho e a satisfação pela atividade que, por décadas, desempenha com maestria.
 
“Estava desempregada e precisando muito de emprego, foi quando surgiu essa oportunidade. Hoje tô bem, me sinto feliz em ter realizado tantas coisas e em poder ajudar a manter minha cidade sempre limpa. É um orgulho muito grande”, comenta.