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Seu Antônio da Barbearia Continental

Seu Antônio da Barbearia Continental

Descomplicando a Economia com Marcio Rocha

O comércio de Aracaju é composto por muitas histórias que se clivam ao longo do tempo e formam o que hoje chamamos de vida empresarial. Vários negócios surgiram, acabaram, outros se perpetuam, e assim a vida segue. Nesta semana, por ocasião do aniversário de 94 anos de um personagem muito conhecido, principalmente entre os mais idosos, deixo de descomplicar a economia, para contar um pouco da história da beleza masculina em nossa cidade. De uma conversa com a amiga de sempre, Magna Santana, com quem tive o prazer de trabalhar por vários anos em rádio, surgiu esse tema de hoje. Falemos sobre seu pai.

Alguns de vocês, leitores, devem lembrar de como era o calçadão das Laranjeiras nos anos 80. Vou me fixar a essa década, pois foi quando comecei a conviver com essa empresa que hoje não existe mais, mas, literalmente, fez a cabeça de milhares de sergipanos. Nesta semana, vamos falar sobre a Barbearia Continental, que ficava ali no calçadão. Lembro dela em dois prédios, um onde hoje funciona uma loja de roupas e outro na primeira loja de uma galeria quase em frente à rua 24 horas. A Barbearia Continental foi um negócio que se movimentou bastante e da qual eu mesmo pude ser cliente, pois lá, pelas mãos de seu Antônio, foi feito meu primeiro corte de cabelo, com dois anos de idade.

Meu pai era bem falastrão, como todos que o conhecem sabem, e obviamente, conversava bastante comigo sobre a vida comercial de Aracaju, por conhecer quase todos os empresários da cidade, e estava quase todo dia na barbearia. A bem da verdade, como diz Albano Franco, “em Sergipe, todo mundo se conhece”. E é bem verdade, pois uma pessoa que fala de outra, que remete a outra e faz sempre chegar em alguém conhecido, pela genealogia citadina que é uma das peculiaridades que nossa capital carrega.

Pela Barbearia Continental passavam os empresários, políticos, pessoas, homens, adolescentes, meninos. Todos ali sentados naquelas cadeiras “Ferrante” de aço, bem modernas se comparadas às cadeiras de madeira bem trabalhadas que existiam anteriormente e que perduraram por vários anos, principalmente nos mercados centrais. Nos espelhos de seu Antônio, Carlos, Zé Grandão, e infelizmente não me lembro o nome do quarto barbeiro que compunha a equipe, contavam-se muitas histórias. Dizem que salão de beleza é lugar de mulheres fofocarem… isso é porque não sabem como é uma barbearia. Homens conversam sobre tudo, política, futebol, mas fofocam, e fofocam muito. Que dirá meu amigo Ramon Gonzallez, do Mestre Barbeiro.

O ambiente sempre foi marcado por muito bom-humor. Risadas nas conversas eram muito frequentes, principalmente na rivalidade de futebol carioca, Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. Futebol paulista nem se discutia, ainda não estava em tamanha evidência. Além do bom e velho Sergipe X Confiança. Cresci dentro da Barbearia Continental, ouvindo conversas, xingamentos e alguns estalidos de latas de cerveja que os clientes compravam no barzinho do lado, quando a empresa já estava dentro da galeria. O mercado de beleza masculina se resumia a corte e barba, não tinha essas variáveis de hoje em dia, mas era marcado por muita camaradagem nos ambientes destinados para os homens… eu já falei que eles fofocavam muito, né? Pois era muito mesmo!

Entre cliques de tesouras, pinceladas de creme de barbear, e a conquista de muitos amigos, seu Antônio viveu mais de 60 anos com esse negócio. E ao lembrar de como aquilo funcionava, vejo o quanto as pessoas eram próximas umas das outras, onde amizades se faziam e deles até hoje perduram.

A Barbearia Continental não existe mais, e não consegui localizar registros da época, mas daqueles quatro homens que lá trabalhavam para melhorar a aparência dos sergipanos, muitas lembranças foram deixadas. E desde então, muitos negócios desse segmento surgiram e continuarão aparecendo, pois o caminho dos serviços de beleza masculina, tal qual da feminina, é um caminho sem volta. Mas nada é igual àquele ambiente em que eu pegava os potinhos de espuma de barbear e saia jogando para todos os lados. Do meu primeiro barbeiro, até hoje carrego um sentimento de muito carinho, mantendo a amizade que transcende o tempo. Feliz aniversário, meu amigo.

Por. Marcio Rocha 

Marcio Rocha é jornalista formado pela UNIT, radialista formado pela UFS e economista formado pela Estácio, especialista em jornalismo econômico e empresarial, especialista em Empreendedorismo pela Universitat de Barcelona, MBA em Assessoria Executiva pela Uninter, com experiência de 23 anos na comunicação sergipana, em rádio, impresso, televisão, online e assessoria de imprensa.

E-mail: jornalistamarciorocha@live.com

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